Ódio, vingança, rancor, inveja, nada disso me incomoda. Mas ciúmes sim. Pois é o único sentimento imune a qualquer lógica — seguido de perto pelo amor, talvez.
Raiva é reação natural a uma agressão. Vingança, vontade de fazer alguém sentir o mesmo que provocou a você. Inveja, insegurança pessoal ou fruto de uma competição já existente etc.
O que importa é que é possível discutir cada uma delas e outras sensações com quem as sente. Logo, há argumentos e certas atitudes capazes de amenizar essa explosão de sentimentos (prometo nunca mais citar Luan Santana na vida) de outra pessoa e fazer com que ela perceba se há ou não exagero em sua reação.
Mas contra o ciúme não há nada. Pois não importa quanta segurança você transmita, em algum momento sua guarda baixa e ele se infiltra. Nessa hora, o argumento mais lógico não faz o menor sentido ao enciumado: tratar mal por medo de perder só irá garantir que isso aconteça.
Parece lógico, concorda? Sendo o ciúme o medo da perda, as ações seguintes deveriam tentar evitar que isso aconteça. Em vez disso, metemos os pés pelas mãos na euforia do momento e quando vemos estamos fazendo mal a quem amamos.
E já que não é possível impedir seu avanço com a lógica, vou tentar encontrar razões para senti-lo. Mas, como sempre, falarei exclusivamente da minha visão leiga e dispensável sobre o assunto. Afinal, o sentimento de posse que acompanha o amor romântico pode ser cientificamente explicado por Regina Navarro com uma competência que eu jamais teria.
Dito isso, afirmo que não sou ciumento, mas tive e tenho meus momentos. Também já tive pelo menos dois namoros envenenados pelos ciúmes. Somando tudo isso e o benefício da “distância” de tais acontecimentos, percebi um padrão que me foi particular.
Quem desconfia quer confiar, e, para isso, exige uma sinceridade excessiva do outro. Esse excesso não diz respeito ao volume de informação, mas à interpretação feita pelo enciumado. Afinal, a sinceridade exige receptividade. Deve-se estar preparado para ouvir coisas que quebrarão a idealização que normalmente fazemos de quem nos apaixonamos. Pode parecer absurdo que ela ou ele tenha defeitos, mas tem, e graves. E já que a paixão aquece o coração, mas se apaga rapidamente, nessa hora relacionamentos acabam por, aparentemente, perderem a graça.
Mas e o amor? É tão frágil assim? Eu sei que dizemos “eu te amo” meio que sem pensar, mas o exercício de amar deve ir além disso. É aceitar que nos relacionamos com seres humanos como a gente, que erram sem querer errar, fraquejam tentando ser fortes, exageram por problemas menores e tentam nos dar força mesmo sendo tão frágeis. É mais difícil do que deveria, mas vale a pena.
A entrega entre duas (ou mais) pessoas com esse nível de comprometimento, cria uma relação única e eterna. A sensação é de ter alguém que não o complete, pois isso é impossível, mas que o complemente. Alguém com quem você sempre estará à vontade e que poderá te ajudar nos momentos mais inesperados. Tenho em minha vida pessoas que trato assim. Dentre amigos, ex-namoradas e familiares estão algumas por quem eu faria tudo. Como se tivesse uma dívida que nunca pudesse ser paga.
E nesse nível de intimidade, não há espaço para ciúmes. Porque há a certeza de que vocês nunca se perderão. Podem se afastar, podem seguir outros caminhos, mas reencontros virão e mais do que coincidências parecerão.
Tampouco haverá espaço para mentiras, pois existirá um esforço para decifrar o que tentar dizer. Afinal, a ofensa não é esperada quando há cumplicidade.
Sei que parece exagero essa minha visão romântica. Talvez por ser, de fato. Mas muitos passam a vida inteira procurando a felicidade. A minha busca é só um pouco mais específica.